Quando publiquei meu primeiro livro, em jan/98, intitulado “Como Conviver com a Violência”, pela Editora Moderna, fui questionado por alguns jornalistas sobre a seguinte frase:
“É possível reduzir quase a zero o risco de assaltos nas ruas quando adotada postura proativa frente a violência urbana”.
Alguns disseram que eu estava exagerando; que seria praticamente impossível reduzir tanto a possibilidade de assaltos. Outros afirmaram que a responsabilidade pela segurança pública era da polícia e eu estava querendo jogar tudo nas costas do cidadão.
Na época, pouco se divulgava nos veículos de comunicação sobre “prevenção”. Cabe lembrar, que a cultura latina é moldada com base na “reatividade”, ou seja, o que fazer depois de acontecer o sinistro.
Minha insistência, materializada através do lançamento de diversos livros e de centenas de artigos explorando o tema segurança pessoal e patrimonial, além de palestras visando gerar conscientização de segurança nas pessoas e entrevistas em todos os canais de televisão no Brasil, e até no exterior, fez com que muita gente passasse a ver com bons olhos a cultura da “proatividade”.
Dicionários apontam a seguinte definição:
“Proativo é um adjetivo atribuído a quem “pensa e age antecipadamente; que, por antecipação, adota medidas para evitar ou resolver problemas futuros”.
Pessoas “proativas” são aquelas que têm capacidade de perceber um problema antes que aconteça e ao identificar buscam solução visando garantir o patrimônio e a integridade física e emocional.
O comportamento proativo está relacionado ao ato de evitar ou escapar de um provável problema antes mesmo que ele aconteça ou se aproxime da pessoa.
Pessoas proativas, em relação a criminalidade, adquirem sensibilidade apurada para identificar situações potencialmente perigosas. Estão sempre com a intuição aguçada, que é nossa maior ferramenta de proteção pessoal.
Imagine a seguinte situação: a balada está fervendo às 2h50 da madrugada. Ambiente lotado, descontraído, bebida alcoólica rolando à vontade. Alguns participantes já começam a falar um pouco mais alto e as brincadeirinhas de cunho ofensivo por parte de alguns homens com as mulheres já começam a pipocar. A pessoa focada em segurança pensa da seguinte maneira:
“Já me diverti o bastante e agora está na hora de ir embora, pois o ambiente está ficando um pouco carregado”.
A amiga, ao saber da decisão da colega de trabalho, discorda:
“Ahhhhh não acredito que você vai embora tão cedo. Fica mais um pouco. Agora é que a festa está ficando boa”.
A moça focada em segurança prefere não alongar a conversa; paga sua conta e deixa o local.
No dia seguinte fica sabendo que sua companheira de empresa sofreu assédio sexual na balada às 4h30, quando um rapaz quis beijá-la sem seu consentimento. A negativa gerou fúria ao embriagado, que ofertou forte empurrão, derrubando-a ao chão. Em virtude da agressão, a moça bateu violentamente a cabeça, causando traumatismo craniano.
Se o leitor chegou até este ponto do texto, é porque está interessado em saber mais sobre prevenção, proteção e proatividade. Assim, vou apontar as fases de pensamentos e atitudes de pessoas atentas com a segurança pessoal:
1) Independentemente do que está fazendo, a mente está focada também em segurança, assim, visualiza tudo o que está acontecendo no local. Não importa se está se divertindo, trabalhando ou até indo orar numa igreja; os olhos da pessoa proativa estão sempre em movimento, fazendo uma verdadeira varredura.
2) A atenção da mente está voltada para identificar possíveis riscos em potencial, tanto relacionados a crimes como a acidentes.
3) O próximo passo é prever o que pode acontecer. A vizinha toca a campainha de sua casa desejando desabafar sobre problemas que está tendo com o filho. Você fica sensibilizado com o começo da narrativa, mas percebe que bater papo com o portão aberto pode chamar a atenção do chamado bandido de oportunidade.
4) Entramos na fase da decisão, ou seja, o que fazer para minimizar o risco verificado? Qual atitude vou tomar para me proteger?
5) Chegou a hora de agir proativamente e tomar atitude antes que aconteça o pior. No caso em tela, o dono da casa convida a vizinha para entrar, tranca o portão e batem longo papo em total segurança na sala da casa.
Resumindo: o proativo não fica à mercê do fenômeno sorte azar, muito menos se submete à roleta russa que é vivenciar o atual cotidiano das cidades brasileiras, reféns da criminalidade.
Essa postura passa a fazer parte de sua personalidade. Um proativo não entrega sua vida e a de seus familiares à vontade de terceiros. Ao antecipar problemas e aplicar as correções possíveis, administra seu destino de forma menos estressante e mais produtiva.
Pessoas proativas assumem responsabilidade por suas ações e não são acostumadas a culpar as circunstâncias. Já os reativos depositam energia na preocupação e medo, quando o assunto é violência urbana e acabam se posicionando como vítima da fatalidade
O proativo é um ser forte, inteligente e racional. Sabe o quer e o que precisa fazer para ter vida plena e saudável em todos os sentidos.
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