“Mas, Lordello, o que me interessa saber sobre as atitudes de criminosos? Quero é ficar longe deles!”.
Talvez o leitor tenha tido o mesmo sentimento ao ler o título deste artigo, mas espero que mude de opinião! Portanto, me oferte oportunidade, continue a leitura.
O General Chines Sun Tzu, que nasceu em 544 a.C., escreveu tratado sobre táticas militares, cujo título é “A Arte da Guerra”. Só para quantificar a valiosidade dessa obra literária, saiba que o Departamento do Exército dos Estados Unidos ordenou a todas as unidades que tivessem nas bibliotecas das suas unidades livros sobre “A Arte da Guerra” disponibilisados para que todos os integrantes da tropa possam consultá-lo.
Em um de seus capítulos, Sun Tzu oferta a seguinte lição, que serve para todos nós:
“Se você conhece o inimigo e a si mesmo, não tema o resultado de cem batalhas. Se se conhece, mas não ao inimigo, para cada vitória sofrerá uma derrota. Se não conhece nem o inimigo nem a si, perderá todas as lutas”.
Aqueles que acompanham meu trabalho através de livros e artigos sobre segurança pública e privada, devem ter percebido que tenho como premissa aprofundar temas específicos, pois só assim entendo que é possível minimizar com tecnicidade riscos frente a violência urbana.
Além do livro “A Arte da Guerra”, é bibliografia essencial sobre o tema a chamada “Matriz Swot”, desenvolvida por Albert Humphrey, emérito pesquisador da Universidade de Stanford nas décadas de 60 e 70, que ensina sobre “Posicionamento Estratégico” com base nos pontos fortes e fracos de empresas e analisa, no mesmo contexto, as ameaças e oportunidades para que possa ocorrer uma boa negociação.
Portanto, para aqueles que gostam do tema prevenção e proatividade, é de suma importância conhecer e aprofundar sobre dois temas:
1) Autoconhecimento
2) Conhecimento do oponente
Após estabelecer algumas premissas, chegou a hora de discutir o tema deste artigo.
Qual o estado emocional do marginal quando perambula pelas ruas buscando uma vítima para atacar?
Qual sua condição psicológica e emocional ao se decidir portar uma arma de fogo e concretizar um assalto?
Há mais de 25 anos entrevisto marginais detidos no cárcere e aqueles que já cumpriram penas e estão em liberdade. Já colhi mais de 2000 depoimentos. Planilhei os dados e estatísticas levantadas e confrontei com declarações de vítimas. Com esse cruzamento de informações pude melhor avaliar a mente dos criminosos. Portanto, seguem algumas dessas conclusões:
a) O marginal está mais tenso e nervoso que a vítima: ele está movido pela satisfação de obter lucro ou ganho com sua ação delitiva. Em contrapartida, sabe que não tem pleno domínio dos fatos. Como a vítima escolhida reagirá frente a voz de assalto? Será que algum policial ou alguém armado vai passar pelo local durante o crime? O marginal é molestado emocionalmente por uma série de possibilidades que podem atrapalhar seu ofício.
b) Medo de Morrer: pensar na possibilidade de perder a vida gera um estresse danado para qualquer um. Muitos dizem que os bandidos não têm nada a perder, mas isso não é verdade. Ninguém deseja morrer, a não ser os suicidas. Um ditado popular diz que “todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer antes da hora”. O criminoso armado sabe que pode ser morto pela polícia, por um transeunte armado, pela própria vítima que pode tomar sua arma de fogo ou até ser linchado por populares, se for dominado.
c) Receio de ser Preso: um erro de cálculo pode levar o bandido a ser preso pela polícia ou por populares. Ser preso em flagrante delito é para o criminoso um acidente de trabalho que gera diversos prejuízos, tais como o cumprimento da pena na prisão, sofrimento de familiares, despesas financeiras e etc.
d) Vítimas não são escolhidas aleatoriamente: por mais amador e inexperiente que seja o bandido, ele não vai assaltar qualquer pessoa. Sempre ocorrerá um processo de seleção, é o que chamo de “análise de risco”, ou seja, ocorre a procura por pessoa que se encontra em posição mais vulnerável e que de alguma forma “facilite” o trabalho do marginal.
Com essa explanação, tenho certeza que o leitor conseguirá formatar mentalmente aspectos importantes do comportamento de pessoas com atitudes suspeitas e, eventualmente, identificá-las se surgirem em seu cotidiano. Quando essa luz vermelha surgir, que nada mais é que a voz da intuição alertando sobre um perigo imimente, imediatamente estabeleça distância da pessoa que pode estar enxergando-o como a próxima vítima.
É inegável que o “corpo fala”. Portanto, prestar atenção na fisiologia daqueles que estão ao nosso redor é imprescindível para nossa sobrevivência num mundo tão violento e perigoso.
Mas, Lordello, quais detalhes devo reparar?
-Mantenha distância segura de quem esteja portando roupa de frio em tempo quente, pois pode estar escondendo algum tipo de armamento;
-Mãos que não saem do bolso podem estar segurando uma arma ou demonstrando tensão ou insegurança;
-A maneira de andar pode denotar a vontade criminosa de alguém. Ele vai de lá pra cá, dando a impressão que não sabe para onde ir;
-Os olhos são as janelas da alma, juntamente com a fisionomia do rosto podem revelar muito. Geralmente, quem vai fazer algo errado não consegue olhar fixamente para o oponente;
-Preocupação, tensão e medo normalmente geram suor excessivo, mesmo em quem está parado, sem fazer esforço físico;
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