"Eu me sinto uma idiota" ROBERTA RIBEIRO TORRES 27 anos, designer (SP)
"Estava saindo de casa para trabalhar quando o telefone tocou. A ligação era do Rio e a história a mesma: primeiro, minha irmã havia sofrido um acidente. Depois, o acidente virou um seqüestro. "Quanto você tem aí, agora?”, a voz perguntou. Na hora, fiquei tão apavorada, imaginando que minha irmã pudesse estar em um cativeiro, machucada, que não me passou pela cabeça ligar para ela. Disse que tinha uns 400 reais na conta. O bandido disse que eu deveria sacar o valor e comprar tudo em cartões telefônicos. Pedi ao meu irmão menor, que estava em casa, que fizesse a operação e continuei pendurada ao telefone com o desgraçado. Meu irmão trouxe os cartões e, enquanto eu passava os números para o bandido, minha mãe chegou para o almoço. Ao saber o que estava acontecendo, pegou o celular e ligou para minha irmã, que atendeu. Eu estava tão fora de mim que, mesmo sabendo que minha irmã estava bem, continuei a passar os códigos dos cartões. Quando terminei, o homem disse: “Agora vou soltar a sua irmã”. E eu já sabia que ela estava bem! Até hoje, quando falo disso, me sinto uma idiota. Depois desse episódio, recebi dois outros telefonemas parecidos. Num deles, um homem disse que havia seqüestrado minha filha. Como não tenho filha, não pensei duas vezes: xinguei e bati o telefone na cara dele."
"Ouvia choros e soluços ao fundo"
R.
55 anos, farmacêutico (RS)
"Eu havia acabado de abrir minha farmácia quando o telefone tocou. Uma voz de homem disse que havia acontecido um acidente de trânsito e perguntou se eu tinha uma filha que dirigia. Disse que sim. Ele começou a fazer uma série de perguntas – o nome dela, a marca do carro – e eu, nervoso, respondia a tudo. Só pensava que ela poderia estar esmagada debaixo de um caminhão. Nesse momento, uma segunda pessoa entrou na linha e disse que, na verdade, minha filha havia sido vítima de um seqüestro. Perguntou se eu estava disposto a pagar o resgate. Eu concordei na hora; estava aliviado por saber que minha filha não estava morta. O sujeito exigiu que eu fosse a uma agência da Caixa fazer um depósito de 1 000 reais e avisou que eu não poderia desligar o celular em nenhum momento. Às vezes eu ouvia choros e soluços ao fundo, e pensava que era minha filha. Fiz o depósito e ele então pediu que eu fosse a um shopping comprar créditos de cartão para uso em celular. Comecei a desconfiar. No shopping, procurei uma balconista e escrevi uma mensagem para ela, pedindo que ligasse para minha casa e chamasse minha filha. Quando ela veio ao telefone, interrompi a conversa com o bandido. Foi como se eu tivesse despertado de um sonho."
"Tenho medo da vingança do bandido"
A.F.
60 anos, microempresário (SP)
Às 7 da manhã o telefone tocou e minha mulher atendeu. Em seguida virou-se para mim e disse: “Seqüestraram a Luciana”. O bandido escutou o nome dela. Foi à deixa para que começasse a nos torturar. Dizia que se não lhe déssemos 100 mil reais, ele balearia minha filha e atearia fogo ao corpo. Minha mulher desmaiou, o terror piorou. Ele perguntou meu endereço e eu dei. Quantos e quais carros eu tinha, e eu falei também. O nervosismo era tanto que eu ia entregando tudo. Pensei em ligar para minha filha, mas o bandido dizia que se o celular dela tocasse ele a mataria. Enquanto isso meu filho acordou, e ao ver o que se passava, ligou para a polícia e depois para a irmã. Constatou que ela estava bem e colocou o fone no meu ouvido para que eu a ouvisse. Mas, mesmo ouvindo a voz da minha filha, não acreditava que era ela. Cheguei a perguntar seu RG e o nome dos nossos cachorros, enquanto tapava o bocal do outro telefone para que o bandido não escutasse. A polícia chegou nesse momento. Orientou-nos a aceitar marcar um lugar para a entrega do dinheiro e prendeu a pessoa que foi apanhar o pacote. Mesmo depois dessa prisão, continuo devastado. Os outros bandidos sabem onde fica nossa casa. Tenho medo que queiram se vingar."
Trechos de alguns golpes
Revista Veja - Fevereiro de 2007
» Golpe do acidente de trânsito
Trechos de conversas telefônicas interceptadas pela polícia do Rio de Janeiro
– Boa noite senhora, aqui é o tenente Douglas da Polícia Militar. É que ocorreu um acidente com alguém que disse que é um familiar seu. Uma das pessoas fortemente acidentadas, após passar o seu número, acabou desmaiando (...)
A senhora tem esposo ou filho na cidade?
– Qual o nome da pessoa?
– Estou pedindo ajuda da senhora porque a pessoa tá inconsciente...
– É Lídia.
– Lídia? (...) É ela mesmo.
– Ela tá viva?
– Tá viva. Na verdade, não foi acidentada, ela tá com a gente, foi vítima de um seqüestro. Se a senhora tentar chamar o seu marido ou desligar o telefone, a gente vai tocar fogo na sua filha viva! É isso que a senhora quer?
– Não, por favor!
» Teatro criminoso
(Voz de homem, chorando)
– Mãe, mãe!
– Hein?
– Eu fui assaltado! Me ajuda, mãe!
– Foi assaltada?
– Fui!
– Quem é?
– Sou eu, mãe.
– Fernanda?
– É!
(Outra voz de homem) – Alô, minha senhora, a Fernanda se encontra com a gente. Preste muita atenção no que eu vou falar pra senhora.
(Chorando) – Ai, meu Deus, não faz isso!
– Calma, que tem conversa. Fica tranqüila que eu vou passar pra senhora tudo o que está acontecendo. A Fernanda se encontrava no lugar errado e na hora errada. A senhora não ponha a polícia envolvida no meio. Quem está junto com a senhora em casa aí? Eu to ouvindo voz! Não bota ninguém! Se o telefone dela tocar aqui e se envolver a polícia no meio, a Fernanda morre!
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