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Independente de classe social, por que muita gente opta por praticar crimes? Saindo do raso e aprofu

Em se tratando de pessoas psicologicamente sadias, todas têm, a princípio, algum tipo de freio emocional que as impede de praticar ou cometer algum ato criminoso, violento ou cruel. Basicamente, são três tipos de freios que fazem agir dentro do que é legal e ético, os quais passo a explanar:

a)Medo: o receio de sofrer represálias faz com que a pessoa pense muito antes de cometer um crime, o que, normalmente, a faz refrear seus impulsos e desistir da ação. É natural que os seres humanos avaliem o custo x benefício de determinada ação antes de praticá-la. O ato de delinquência é anabolizado quando a percepção de que o risco da punição é baixo ou a pena é branda;

b)Vergonha: receio de ser menosprezado, debochado ou ridicularizado pelas pessoas que vivem em seu ambiente social e familiar;

c)Culpa: é a responsabilização em relação aos danos causados a alguém.

De acordo com a “Teoria dos Controles”, uma das principais correntes da criminologia, temos três mecanismos que mantêm o comportamento das pessoas nos parâmetros aceitáveis pela sociedader:

1) Autocontrole: é a interação com o ambiente que se vive. A denominação mais clássica é a socialização. O antropólogo Luiz Eduardo Soares oferta a seguinte explicação em relação ao autocontrole para não se cometer delitos: “O solo mais firme e fundo da mediação que evita o crime é o reconhecimento de seu valor que a criança recebe na família e no seu grupo social. Por outro lado, se a criança só experimenta rejeição, ressentimento, insegurança e ódio de si mesma, ela tende a não se identificar com esses valores da sociedade”;

2)Medo da Punição: quanto mais eficiente for a atuação da polícia e da justiça criminal, mais forte será o sentimento de punição. A certeza que ocorrerá penalização, faz com que o indivíduo pense duas ou três vezes antes de cometer um crime; com isso, tende a desistir de sua vontade delitiva;

3)Controle Social: imagine a seguinte situação: um homem com pressa está por quase sessenta minutos na fila para comprar ingressos para um show. Nesse período, percebe que algumas pessoas estão cortando caminho ou que pagaram para guardarem seus lugares e ninguém se manifesta, agem como se estivessem concordando. Para piorar, não tem nenhum fiscal ou responsável para organizar a caótica situação. Esse descontrole geral faz com que também visualize oportunidade de ser atendido com maior rapidez, em detrimento dos que estão na sua frente.

E a pobreza, como entra nesse contexto?

É correto falar que muitos bandidos entraram para o crime por causa da condição social de baixa renda da família?

E aqueles que defendem que bandido é vítima da sociedade capitalista! É mera retórica ideológica ou existe embasamento para essa afirmação?

Para tentar responder essas indagações, acompanhe narrativa de ocorrência policial em comunidade pobre no Rio de Janeiro:

O Batalhão da Polícia Militar do bairro de Jacarepaguá/RJ, recebeu denúncia anônima, em maio/2017, noticiando que no matagal atrás do Shopping Uptown estavam vários traficantes fortemente armados.

Uma equipe com cerca de 15 PMs foi rapidamente para o local. O ambiente era de tensão; os milicianos sabiam que fatalmente haveria troca de tiros.

O cerco foi montado mas os policiais não encontraram bandidos perigosos e sim 5 crianças brincando de “polícia e ladrão”.

Os garotos, com idade de 10 e 13 anos, ficaram assustados com a chegada rápida do pelotão. Brincavam com réplicas de fuzis e pistolas de fabricação caseira. Havia tembém dinheiro de mentira, maconha e papelotes imitando cocaína, onde foi usado achocolatado e leite em pó. No caderno de contabilidade dos “traficantes mirins”.., constavam os valores de cada droga e o faturamento do dia.

Mas por que esses jovens não representavam a polícia, como antigamente se fazia, e escolheram interpretar o papel de bandidos ligados a facção criminosa?

Quando estudei programação neuroliguística, em um dos capítulos foi explicado o fenômeno da modelação com crianças da segunda infância, que compreende a faixa etária dos 7 aos 13 anos.

Nessa fase de desenvolvimento humano, o filho modela o comportamento dos pais, ou seja, introjeta, inconscientemente, as atitudes presenciadas dentro do lar.

Por outro lado, esses garotos moradores de comunidades carentes passam a maior parte do dia, desde tenra idade, nas vielas e becos, longe dos pais, muitos deles presos ou mortos pela polícia, por gangues rivais ou desafeto no mundo do crime. Diariamente, presenciam o movimento do tráfico e a venda de drogas como se fosse uma mercadoria legalizada, pois é feita em plena luz do dia, sem nenhum tipo de obstáculo. Jovens aliciados pelo crime portam armas de fogo, usam correntes de ouro, roupas de marca e trafegam com motos e carros reluzentes. Com isso, adquirem respeito (através do medo) da sociedade local.

Portanto, o modelo de vida desses 5 garotos mencionados é o mundo do crime. Essa é a referência que têm em seu processo de desenvolvimento mental.

Em idêntico ambiente social, as representantes do sexo feminino, na mesma localidade e na mesma faixa etária, frequentam bailes funks usando roupas insinuantes, fazem uso de bebidas alcoólicas, drogas e, com naturalidade, praticam relações sexuais promíscuas.

Esses jovens não estão no caminho errado; estão no único caminho que lhes foi apresentado.

Para eles, não existe alternativa que permita comparação ou livre arbítrio. Se adaptam à realidade de seu cruel cotidiano e o reproduzem, perpetuando o ciclo de desajuste social.

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