Um provérbio árabe diz que “quem tem saúde tem esperança e quem tem esperança tem tudo”.
Todo mundo diz que saúde é nosso bem mais precioso. O personagem Paulo Cintura protagonizou outra frase que adoro:
“Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”.
Apesar da maioria das pessoas enaltecer a importância da saúde, não vejo no cotidiano preocupação correspondente. Muitos só dão o devido valor quando a perdem.
O primeiro ponto para reflexão, é que quando falamos sobre saúde, geralmente, vem à mente a doença física, ou seja, aquela que é diagnosticada rapidamente pelo próprio doente. Pode ser uma simples dor de cabeça, dificuldade no sistema respiratório ou até uma dor muscular que incomoda e atrapalha o desempenho das atividades diárias.
Na semana passada, encontrei em um restaurante um amigo de infância, proprietário de uma Loja Pet. Ele andava com dificuldades e percebi que pouco comera, pois parecia sentir muitas dores. Ele me contou que desde o início de 2016 passou a ter fortes dores na região lombar. Exames apontaram sério problema na coluna. Seu médico recomendou, como opção de tratamento, uma cirurgia de alto risco, que pode redundar em perda dos movimentos das pernas em razão da delicada área a ser operada. Para minha surpresa, ele, que é casado e pai de dois filhos, fez a seguinte afirmação:
“Lordello, estou sofrendo com dores horríveis, mal consigo dormir. Parece que tenho uma faca enterrada nas costas; cada vez que me mexo, o sofrimento aumenta”.
Em seguida, perguntei sobre a expectativa da cirurgia e a resposta foi chocante:
“Não estou com medo algum da operação, pois te confesso que prefiro morrer a continuar sofrendo desse jeito”.
Imediatamente, tentei contemporizar e ele replicou:
“Cheguei no meu limite, se a operação não tirar essa terrível dor, prefiro morrer”.
Percebi, por seu semblante, que ele não falava em tom emocional; mostrava seriedade no que estava dizendo.
Outro fato no mesmo sentido, tomei ciência no final do ano passado. Fui visitar uma amiga antiga, que estava se tratando de câncer. Ela já havia perdido quase 40 kilos, e em razão das fortes dores, precisava tomar várias doses de morfina por dia. A filha me contou que a genitora estava tão magrinha que a enfermeira tinha dificuldades de encontrar local adequado para aplicar a morfina. A paciente se mostrava serena em seu leito no quarto da casa. Se mostrou alegre com minha visita e ao final de bate papo, de quase uma hora, fez o seguinte desabafo:
“Jorge, se não fossem as injeções que estou tomando, não seria possível suportar tanta dor. Mesmo com minha fé em Deus, seria melhor falecer”.
Amigo leitor, os dois relatos que vivenciei em 2016 são tristes e nos remetem a diversas reflexões e aprendizados de vida.
A “dor física” faz com que muita gente ventile a hipótese da morte como forma de aliviar o sofrimento.
O Brasil é o 8º país do mundo m número de suicídios, aponta relatório da OMS. De acordo com dados estatísticos, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo.
Mas qual será o motivo que leva uma pessoa a cometer suicídio se a vida é o bem mais valioso que temos?
A literatura médico legal ensina que muitos suicidas deixam cartas de despedida aos familiares e amigos. Tive acesso a pelo menos 100 redações de vítimas de suicídios. Por mais difícil de acreditar, na maioria das cartas as pessoas se mostram serenas e estão conscientes do que estão fazendo. Procuram mostrar justificativa e fazem rol de despedida.
O que me chamou a atenção, na maioria dos casos que tive acesso, é que a vontade de morrer não se deu em razão de “dor física”. Pude perceber, com clareza, que a dor que sentiam era única e exclusivamente “emocional”.
Da mesma maneira que uma pessoa que sofre com terrível dor física ventila que a morte seria um verdadeiro alívio, mas na maioria das vezes não comete esse desatino, aqueles que passam pelo sofrimento da dor emocional tem, geralmente, esse mesmo raciocínio, só que, infelizmente, alguns concretizam o suicídio.
A conclusão é uma só:
Viver torna-se um fardo tão pesado para o suicida, que a morte acaba sendo a solução.
O distúrbio emocional tira a pessoa da racionalidade.
Os meios de comunicação sempre veiculam ocorrências trágicas, onde o marido mata a esposa e em seguida comete suicídio.
Qual seria o raciocínio deturpado dessas pessoas?
Viver sem a esposa amada não é possível e traz, além da dor emocional, raiva da ex. Num momento de ilucidez, a raiva faz com que o homem mate aquela que não o quer mais, e sem ela, é melhor não viver também.
E quando a pessoa ainda mata os filhos, qual o raciocínio lógico?
Primeiramente, é importante frisar que não existe lógica de pensamento na mente de pessoas que matam a família e depois tiram a própria vida.
A dor emocional tira o adoecido da realidade, extirpa freios, desvirtua o sentimento de amor e traz à tona a violência através da irracionalidade.
Um homem ou mulher que decide cometer suicídio por entender que esta vida é por demais cruel e dolorosa, pode estender a mesma linha de raciocínio para o filho, imaginando que estará fazendo um bem à criança, evitando que num futuro próximo passe pela mesma dor do(a) genitor(a).
Mas qual a solução para toda essa problemática?
A resposta não é fácil, pois cerca de 900 mil pessoas cometeram suicídio no ano passado e o número vem se elevando nas últimas décadas.
Apenas 28 países do mundo possuem planos estratégicos de prevenção. Para a Organização Mundial de Saúde(OMS), o tabu em torno deste tipo de morte impede que famílias e governos abordem a questão abertamente e de forma eficaz.
Por isso resolvi escrever sobre tema tão difícil! Precisamos cuidar de nossa saúde física e da emocional, da mesma forma, com a mesma ênfase. Corpo e mente saudáveis são ambientes férteis para prosperar a felicidade e paz de espírito. Muitas pessoas envolvidas com drogas lícitas e ilícitas atentam contra a própria vida. Drogas não são boa companhia para quem pleiteia saúde, em todos os sentidos.
Na semana passada, me preocupei com uma jovem seguidora do Twitter que disse estar muito triste pois se achava sozinha. Analisei seu perfil e vi que possuía 543 amigos, sendo que muitos devem ser reais e outros virtuais. Mesmo assim, ela se achava só. Outros acham o mundo injusto ou cruel demais.
A realidade que enxergamos depende da lente que usamos. Se estiver suja, desfocada, embaçada ou trincada, é óbvio que não será plenamente real.
Uma coisa é certa, a dor emocional é muito mais intensa que a dor física, por isso produz mais estragos.
Pais, familiares e amigos devem ficar atentos e dar todo suporte quando perceberem que alguém querido está sofrendo com dor emocional, principalmente aqueles que já deixaram de fazer as atividades diárias, se isolaram e apresentam linguagem negativa ou fatalista.
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