Há 15 anos realizo pesquisas incessantes em relação à criminalidade, descobrindo formas de prevenção que podem ser usadas por qualquer pessoa e com isso reduzir sensivelmente o risco de assalto. Entrevistei centenas de marginais e fiz uma descoberta interessantíssima que traduz numa singela frase: "O marginal procura facilidade e não dificuldade".
Como tudo na vida, procuramos a forma mais fácil de agir, que nos leva a caminhos menos perigosos, evitando correr riscos desnecessários. Os criminosos pensam e agem dessa forma. O leitor pode ter certeza de uma coisa, os bandidos não escolhem suas vítimas aleatoriamente, por acaso. Eles perambulam pelas ruas, a pé, de moto ou dirigindo um carro, procurando minuciosamente uma pessoa que esteja desligada em relação ao item segurança.
Certa vez, atendi uma ocorrência no plantão policial que versava sobre roubo de auto. O vendedor M.C.L. estava no interior de seu carro Voiage, juntamente com sua namorada H.F., próximo ao fórum. Era verão, os vidros do veículo estavam abertos e os pombinhos trocavam carícias observando o inebriante luar. Dois jovens passavam pelo local, quando ouviram alguns suspiros e perceberam que duas pessoas estavam dentro do carro estacionado embaixo de uma árvore. Eles pararam por alguns segundos, observaram que a rua estava completamente deserta, sacaram de suas armas de fogo e com a maior facilidade acabaram com o prazer noturno do casal.
O vendedor M.C.L. ficou sem seu veículo e foi para a delegacia formular o registro do crime. Ao final da ocorrência, entreguei uma cópia do BO para ele e fiz a seguinte pergunta: "Você não tinha calculado que ficar dentro do carro a essa hora da madrugada, numa rua deserta era perigoso?". A vítima, meio sem graça diz: "Claro que eu achava perigoso, mas não acreditava que pudesse acontecer comigo".
Na verdade, o relato dessa vítima retrata o pensamento de muitas pessoas que já foram assaltadas. Elas sabem que estão se expondo ao perigo ao realizar algum tipo de conduta, mas não acreditam na possibilidade criminosa de uma abordagem naquele momento.
É o que chamo em meu livro, de "Sentimento de Negação", onde a pessoa, mesmo vislumbrando uma possibilidade de assalto, prefere "negar" que esse sentimento venha se transformar em realidade continuando com sua conduta perigosa.
Outro caso interessante que participei, há mais de 8 anos ocorreu na Grande São Paulo. Trafegava com a viatura policial, por volta das 23h quando percebi um sobrado com a porta da frente escancarada. A luz da sala estava apagada e o silêncio tomava conta do local. Chamei o reforço policial, pois acredita na ocorrência de roubo a residência. A sala estava vazia e a sala de jantar também. Ao adentrar na cozinha ouvi um barulho vindo dos fundos da casa. A tensão tomou conta de todos os policiais que ali estavam. Cercamos toda a residência e no momento crucial de invadir o quintal, encontramos 5 pessoas jogando buraco ao ar livre, em razão do forte calor que fazia naquela noite. A dona da casa disse que deixara a porta da casa aberta para ventilar um pouco. Mencionei o perigo de tal atitude e ela concluiu: "O senhor tem toda razão. Eu sei do perigo, mas nunca acreditei na possibilidade de ladrões invadirem minha casa. A partir de hoje vou tomar mais cuidado e não dar chance aos marginais".
Portanto, dê um chega prá lá nesse sentimento de negação que já fez com que muitas pessoas desavisadas se transformassem em vítimas.
Lembre-se que o assaltante sai de casa e não possui vítima definida, na maioria das vezes. Ele procura alguém que "facilite" seu ofício criminoso.
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